Instalação do Centro de Tratamento de Resíduos em Seropédica divide opiniões

por Douglas Maços e Isabella Oreiro

O lixo é um dos grandes problemas das megacidades. O Rio de Janeiro também se depara com esta situação crucial. Atualmente a Cidade Maravilhosa deposita os detritos no aterro de Gramacho, em Duque de Caxias, mas a área chegou ao limite e a previsão é que seja desativada até o ano de 2012. Com isso, é necessária a construção de outra área para colocar os resíduos.


Inicialmente a nova área seria em Paciência, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. Mas por questões políticas e econômicas, os políticos cariocas decidiram manter o projeto de enviar o lixo da capital para cidades vizinhas. Seropédica surgiu como a mais adequada, já que apresenta áreas desabitadas, vistas como propícias para a implantação do Centro de Tratamento de Resíduos (CTR).


O professor Marco Souza, do curso de administração da UFRRJ, morador de Seropédica, é contra a vinda do CTR para a cidade. Suas ideias podem ser lidas no blog “Diário da Lixolândia”, criado para falar sobre o tema polêmico. “Do ponto de vista moral, é um absurdo uma cidade como o Rio de Janeiro, jogar o seu lixo em Seropédica. Só vai trazer malefícios para a cidade”, comenta o professor.


Já para o locador de imóveis  Audir da Silva Cabral, morador da cidade há 40 anos, o projeto vai trazer melhorias para a cidade.  “Sou completamente a favor. O CTR só vai aumentar a quantidade de empregos para a população. Vai aumentar a procura por novas residências, pois vai trazer mais gente para a cidade. Só vai fazer a cidade crescer.”


O estudante Alerrandre Barros, aluno do segundo semestre do curso de Comunicação Social da UFRRJ, ao ser questionado se acredita que a implantação do lixão poderia afetar a sua vida na cidade universitária, disse que se a o projeto estiver de acordo com a legislação não vê problema. “Mas como o assunto tem dado muita discussão, e sabendo que uma parcela da população de Seropédica é contra, acho que deveria ser feito um plebiscito ou uma consulta pública para saber o que realmente a população quer. Afinal, os moradores serão atingidos para o bem a para o mal”, analisa Barros.

fonte: site  Rodrigo Dantas

O processo e as reviravoltas


A polêmica sobre a implantação do CTR em Seropédica começou em 2009, quando a câmara de vereadores aprovou uma emenda à Lei orgânica do município, que proibia a construção de aterros sanitários. Mas o prefeito Darci dos Anjos entrou na justiça com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a emenda. No dia 9 de agosto deste ano, a justiça deu ganho de causa ao prefeito, e, quatro dias depois, as obras começaram na Rua 11, na comunidade de Santa Rosa, a 8 km da estrada principal.



Só que o caso teve uma reviravolta. O prefeito Darci dos Anjos e o vice-prefeito Reinaldo Romano tiveram os mandatos cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE – RJ) por compra de votos. No dia 23 de agosto de 2010, assumiu a prefeitura Alcyr Martinazzo, que havia ficado em 2o lugar na eleição de 2008. Com base em um parecer técnico da Secretaria de Meio Ambiente de Seropédica, que detectou irregularidades na instalação do aterro, o novo prefeito suspendeu o alvará da empresa Ciclus, responsável pelo projeto, e paralisou as obras.


O morador Audir Cabral, a favor da instalação da obra, é taxativo ao dizer que “Martinazzo é um político, que faz politicagem, ele anda conforme a população. Já Darci dos Anjos é esclarecido e pensou no futuro de Seropédica ao trazer o CTR para a cidade”. Na visão do professor Marco Souza, os dois políticos estão errados: “Aceitar o lixo do Rio de Janeiro significa não pensar na cidade de Seropédica. É uma prova de incompetência administrativa dos políticos da cidade. Darci dos Anjos que aceitou a construção estava errado e Martinazzo que até agora tem tomado somente medidas temporárias e tem feito muito pouco contra o lixão também está errado”.


A avaliação do professor é, em parte, motivada pela liminar em favor da Ciclus, que permitiu a retomada das obras do CTR na comunidade de Santa Rosa.  Em 22 de outubro, o juiz André Luiz Duarte Coelho justificou a concessão da medida provisória pelo fato de que a prefeitura de Seropédica suspendeu as obras sem tornar públicos os motivos da decisão.

Questões ambientais e sociais – visões opostas

Além das questões políticas, o CTR envolve também questões ambientais e sociais já que ele vai ocupar uma grande área ambiental e a população vai precisar conviver com ele. Marco Souza vê um futuro desastroso.  “As pessoas vão ter que aprender a conviver com o lixo incinerado, com a poluição, a cidade vai ficar cercada de miséria e sujeira, muitas moscas, urubus e ratos. Seropédica vai ser uma cidade marcada por ter um dos maiores aterros da América.”  O coro dos otimistas repete que o CTR só vai trazer benefícios para as pessoas e para a cidade: “Todo o material trazido para o CTR será plausível de reciclagem, nem que seja para adubo, todo material tem um aproveitamento. Com a reciclagem, vai aumentar a quantidade de empregos, fazendo com que a economia da cidade circule e com isso vai fazer a cidade crescer”, são as previsões de Audir Cabral.


Com relação ao processo de reciclagem do lixo, o professor Marco Souza, tem uma visão completamente diferente do morador Audir Cabral: “O lixo que vai vir do Rio de Janeiro para Seropédica é o lixo bruto, é aquele lixo que não da mais para ser reciclado. Ou seja, o processo de reciclagem que aumentaria a quantidade de empregos e faria a economia girar, não vai acontecer em Seropédica”. Na opinião do professor, a UFRRJ poderia ter interferido no processo de maneira mais ativa. “Duas coisas serão memoráveis em todo esse processo. A instalação do CTR e a falta de ação da UFRRJ. A ação demorou a ocorrer e quando aconteceu foi fraca demais”, finaliza.


O perigo de contaminação de um aqüífero próximo à área escolhida para implantação do CTR é outro ponto de controvérsias. Há os que creem na possibilidade de degradação do ambiente e há os que acreditam que a tecnologia usada será eficiente na proteção da área.

*Entenda os tipos de depósitos de lixo*


Um lixão é um amontoado de lixo sólido, sem qualquer tipo de tratamento do solo. Também não há nenhum tipo de tratamento do chorume, que acaba por penetrar no solo e gerar grande prejuízo ao meio ambiente.


O aterro controlado funciona como se fosse uma mescla entre lixão e aterro sanitário. Esse tipo de aterro é considerado como um lixão que recebeu um “tratamento”. O lixo é coberto por uma capa impermeabilizante de argila, coberta por grama, e, então, é feita a captação do chorume a partir dessa capa. Porém o lixo acaba se infiltrando no solo e gerando conseqüências ambientais, como a poluição dos lençóis freáticos.


Um aterro sanitário, antes da sua instalação, tem a preparação do solo, tornando-o impermeável. Também recebe um sistema de tratamento do chorume. Este tipo de aterro é o que gera menos danos a população e ao meio ambiente. Mas também é o de maior gasto. Existem apenas quatro no Estado do Rio de Janeiro.  


(Fonte: site Lixo.com.br)

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